Crónicas de um confinamento - VI

 

Mestria VI

A arte de ser mestrado em Influencer sanitário



Aqui é que as coisas se tornaram ainda mais engraçadas.

Todo um novo corpo clínico surgiu com a pandemia. 😷 É que a credibilidade do doutor google passou a ser considerada um doutoramento, e o jornalismo foi equivalente a cinco anos de formação em epidemiologia. 😎  Tudo isto levou a que todos nós nos tornássemos experts no “lava as mãos, distancia-te, põe álcool gel e usa mascara”. E quem duvidasse dessas capacidades, era bombardeado com estudos em que aparentemente só se liam os cabeçalhos, ou noticias reportadas por jornalistas especializados em confinamentos, os mesmos que uns tempos atrás tinham noticiado um crocodilo no rio Douro sem verificarem se realmente era verdade ou não. 🐊

Mas houve aspetos positivos. Ensinaram-nos como lavar as mãos! 🙌 E nós, como bons professores, graduados pela universidade da vida, ensinámos outros a fazer o mesmo. As soluções de álcool gel nasceram como cogumelos, cada uma mais malcheirosa e peganhenta que a outra, e não havia alma que não andasse com um frasquinho por via das dúvidas. Já as mãos em carne viva, mas o importante era não ter o vírus agarrado. E lembram-se que ainda houve uma época em que se esgotaram as luvas? (presumo que tenha algo a ver com o facto de terem esgotado o papel higiénico antes) E que além de se desinfetarem as mãos, punham se as luvas, desinfetavam se as luvas e depois havia toda uma mestria para as retirar…? Epá, tanta disciplina inovadora que aprendemos ao longo do confinamento! 😄

O distanciamento também foi algo maquiavelicamente bonito. 😈 Apos nos darem ordem de soltura, acabando com o confinamento, a primeira coisa que nos disseram foi… distancia dos outros! E assim, passámos a desviar-nos de toda a gente, até da própria família, o que para algumas pessoas deu jeito, era a desculpa perfeita para já não usar a desculpa da dor de cabeça. Sim, conheci casais que ambos andavam de máscara em casa, passaram a dormir em camas diferentes, e a ter os seus próprios talheres e toalhas, seguindo à risca as recomendações do Dr. Google. 

Não sabemos se continuam juntos, deixaram de ser vistos. 🙈🙉🙊

Giro mesmo foi nos restaurantes. 🍴 Eu falo por experiência. Tinha acabado de abrir um. 😕

👉Primeiro medimos a distância das mesas

👉Depois percebemos era que tínhamos que medir a distância das cadeiras

👇

Ou seja, tínhamos 2 mesas, uma em cada canto do restaurante. 😏 

Caso não estivéssemos satisfeitos com isso podíamos sempre optar pelos acrílicos, esses painéis parecidos com vidro, salvadores e repelentes de vírus. Era só colocar no meio de cada mesa e já se podia almoçar ou jantar à vontade… se o fizéssemos numa loja de cambio. Ou numa farmácia a meio da noite. Só faltava a ranhura por baixo para passarmos os valores, claro, devidamente desinfetados. 💦

E quem é que não teve a zona suja separada da zona limpa à entrada de casa? Ah pois é!! Tantos, não foi? Seus meninos bem comportados!! 😇 Antes a casa era toda ela uma zona suja, ninguém estava muito preocupado com o que trazia da rua, bacterialmente falando. (inventei uma palavra nova, quem nunca?) Ninguém lavou tanta roupa ou tomou tantos banhos como no primeiro confinamento. Mas antes de passar da zona suja para a zona limpa havia todo um procedimento de desinfeção. E depois era ver a malta vestida de astronauta a tirar a roupa da zona suja para dentro da máquina da roupa. Ó pá, se isto não foi uma grande mestria, não sei em que mais nos podemos tornar mestres! 😂😂

Sabem o que vos digo? Coitados dos professores de história em 2050… terem que explicar isto tudo às crianças dessa altura. Não vai ser fácil não. 😁



Conclusão


Sem duvida alguma que foi uma situação que nos pôs a todos nós á prova. Vimos nos fora das nossas zonas de conforto e tivemos que reajustar comportamentos dentro e fora de casa, e fomos forçados a lidar com partes de nós desconhecidas. 👀

Tivemos que dar um novo significado ao Amor. Amor próprio, amor conjugal, amor paternal, todas essas relações foram por si só umas valentes mestrias! Porque, vá lá, quem é que conseguia ter uma vida conjugal feliz 24h, 7 dias da semana com três filhos a correr de um lado para o outro da casa? Só quem se especializou na arte de ser zen! ॐ

E quem é que conseguiu fazer o amor? Quem se especializou na arte do Kamasutra (e do silencio, se tinham filhos 😜)! 💏

Quem é que estava sempre de acordo em relação à comida do jantar ou à serie que iam ver na Netflix?

E por falar nisto, quem é que não viu o Milagre da Cela 7 e não partilhou nas redes sociais com um texto cheio de emojis a chorar? 😂 A minoria pode receber uma troféu! 🏆 Mas ainda assim, para estarem todos de acordo ao que ver na Netflix, só podiam ter várias contas 😅 Ou então a arte de bom argumentista e critico de cinema para por os outros a verem o que queriam. Tenho que confessar que este ano insisti e usei esta arte para vermos um filme de gafanhotos sugadores de sangue só porque tinha lido algures que as pessoas tinham se sentido mal a vê-lo. Depois percebi porquê... 😆

Ser fitness, alguém tentou? Pois eu tentei. Ainda vi uns vídeos de treinos online para me mestrar nesta área, mas só me davam vontade de comer 😄 Ficava cansada só de ver... Acho que em vez da arte de ser fitness, passei com distinção na arte de ser Bela Adormecida 😂

Pois bem, isto foi tudo muito bonito e engraçado mas vamos ao que realmente interessa!

Sejam felizes! Respeitem se e respeitem os outros. Alimentem-se bem, cuidem da vossa mente e exercitem o vosso corpo! A maior aventura das nossas vidas é estar vivo! E como em todas as aventuras, há momentos felizes e percalços, que têm que ser vividos com a certeza de um futuro melhor. 

Um bem haja e grata por estrem desse lado!

Leónia Porto 

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